Série Olfato - inspiração dos deuses...

O perfume na Literatura...

Gilka Machado acredita que "não foi por simples fantasia, por mera criação poética, que os gregos consideraram o perfume a bebida inspiradora dos deuses..." (segundo A cor do gosto)...

E, sugestionada por essa ideia, escreveu:

"Vaga recordação das sensações secretas,

das mudas sensações dos mundos vegetais;

- arco abstrato, que afina as emoções dos poetas

e que ao violino da alma arranca sons irreais.

Ó perfume (...)

És um espiritual desprendimento ao luar,

se, à noite, sonha a flor do cálice no leito,

e és a transpiração da planta à luz solar.

Mas se acaso te atrai o Homem - ser destruidor,

perfume - decomposto, inane, liquefeito,

és a essência, és a vida, és o sangue da flor.

É sabido que o sentido do olfato possui importância transcendental em nossa vida afetiva, e que algumas mulheres necessitam de perfumes mais violentos para seu bem-estar. (Vignes).

Coelho Neto, ao mostrar que tudo tem fragrâncias próprias, disse a um amigo: "Chego a levar minha mania ao ponto de emprestar aroma às coisas abstratas - à cor, ao som, ao sentimento. O branco é inodoro como a camélia; o vermelho cheira a cravo, o azul a heliotropo.

Há trechos na Aída (de Verdi) de uma tal intensidade sugestiva que, ouvindo-os, não só nos remontamos à vida sensual do Egito faraônico, como sentimos (...) um fugitivo aroma de crisântemos. Não conheço o crisântemo, mas o que senti, ouvindo a Borghi cantar O frescri valli, devia ser forçosamente o aroma da flor do Oriente. A saudade recende a violeta. A inocência (...) que é o lírio do monte."

Ninguém negará, portanto, a influência que sobre todos nós exerce o olfato, em grande parte pela suave sensação que nos oferecem os perfumes agradáveis, as fragrâncias mais desejadas, cuja essência exerce um poder fascinador...