sábado, 6 de novembro de 2010
Amor Virtual
(Fabrício Carpinejar)
Acredito em amor virtual. Não adianta se valer do ceticismo da carne e dizer que a distância engana, que as pessoas não se conhecem, que pode haver desfeita e desilusão. Acredito em amor virtual. Pois nada é mais expansivo e verdadeiro do que se conhecer pela linguagem. Nada é mais íntimo e pessoal do que se doar pela linguagem.
Não serei convencido da frieza do relacionamento na web, da articulação de fachadas e pseudônimos, da ironia e dos subterfúgios denunciados nos chats. O que acontece na internet reproduz a vida com seus defeitos e virtudes, não se pode exagerar na desconfiança. O amor virtual é tão real quanto o sangue. Não preciso enxergar o sangue para verificar se ele corre. O amor virtual trabalha com a expectativa e a ansiedade. Como um teatro que se faz de improviso, com a ardência de ser aceito aos poucos, sem o temor e os avisos em falso do rosto.
Na correspondência, há a esperança de ser amado e de entreter as dores. A esperança aceita tudo, transforma todo troco em investimento. Um gesto de redobrada atenção, uma resposta alentada, uma frase diferente, um cuidado excessivo, a cordialidade do eco e o amor se instala.
Não há o julgamento pelas aparências (que se assemelha a uma execução sumária), mas o julgamento em função do que se imagina ser, do que se deseja, do que se acredita. São raros os momentos em que se pode fechar os olhos para adivinhar. Adivinhar é delicioso - é se dedicar com intensidade às impressões mais do que aos fatos. Alguns dirão que é alienação permanecer horas e horas teclando ou diante de uma câmera e do computador. Mas é envolvimento, amizade, compromisso. É pressentir o cheiro, formigar os ouvidos, seduzir devagar. Não conheço paixão que não ofereça mais do que foi pedido.
Quem reclamava da ausência de preliminares deve comemorar o amor virtual? Nunca se teve tanta preliminar nas relações, rodeios, educação. Fica-se excitado por falar. Devolve-se à fala seu poder encantatório de persuadir. Afora o espaço democrático: um conversa e o outro responde. Findou o temporal de um perguntar para outro fingir que está ouvindo. No amor virtual, a linguagem é o corpo. Dar a linguagem é entregar o que se tem de mais valioso. É esquecer as roupas na corda para escutar a chuva. É recordar de memórias imprevistas como do tempo em que se ajudava à mãe a contornar com o garfo a massa do capeletti. Conversa-se da infância, dos fundos do pátio, do que ainda não se tinha noção, sem ficar ridículo ou catártico. Abre-se a guarda para olhares demorados nos próprios hábitos. A autocrítica se converte em humor; a compreensão, em cumplicidade. É uma distração para concentrar. Uma distração para dentro. Vive-se com mais clareza para contar e se narrar.
Amor virtual é conhecer primeiro a letra, para depois conhecer a voz. A letra é o quarto da voz.
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Recebi de Presente de Antônio Lídio Gomes, do blog: Vozes de Minha Alma, esse lindo poema:
Amor Amigo
Há algo mais doce e agradável
Do que ler teus poemas de amor
Dizer pra ti o quanto és amável,
Que és a amiga, que és uma flor?
Desejo que volte, para sempre ficar
Escrever os poemas, singelos, bonitos
Das flores, dos frutos, do verbo amar
Que alegra a alma, nos versos benditos
E tu amiga, da exuberante paixão
Em teu coração, transborda as fontes,
Da tua beleza, de nossa afeição!
Se há algo mais lindo do que tua amizade
Dentro de um peito que acolhe a paz
Dou-te boas vindas, dentro do meu coração!
Obrigada, poeta!!!
Que esse texto seja de reflexão...para aqueles que não sentem como nós, não pensam como nós, e são verdadeiros céticos diante dessa maravilhosa realidade, que é a virtualidade SADIA, HONRADA, MARAVILHOSA e PLENA.
Mesmo porque nós já nos conhecemos fora dela!!!!
Um beijo,
Graça Lacerda
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Textos lindos!
ResponderExcluirPalavras que traduzem o amor...
que suave.
Beijos!
- Em séculos passados, a distância era vencida com cartas perfumadas, que levavam marcas de beijos e manchas de lágrimas, ornamentos de emoções expressas em palavras. Hoje, os ornamentos são música, cores, scraps... mas o ingrediente principal continua sendo as palavras e as emoções que elas exprimem.
ResponderExcluir- PS: Quando será que vão inventar um computador capaz de transmitir perfumes pela Internet?
Si, querida amiga!
ResponderExcluirgrata pela doce visita...já fui vê-la no Balaio!!
Rodolfo,
sabia que esses dias eu tb fiz essa mesmíssima pergunta para alguém de quem não me lembro agora?????
Net perfumada...taí um tema que eu não havia ainda pensado!!!
Obrigada pela feliz sugestão...
Abraços e laços!
Olá, Graça querida
ResponderExcluir"Dar a linguagem é entregar o que se tem de mais valioso".
Acredito nas amizades virtuais sim, ontem mesmo participei da desvirtualização carioca... foi muito bom!!!
Tenha uma semana na proteção divina!!!
Bjs e obrigada pelo lindo comentário que me teceu, amiga.
Eu simplesmente amo a palavra, sempre amei. Como também sempre amei conversar, descobrir sobre as pessoas. E antes de ter internet eu ficava horas teclando em chats de celular (doidinha da silva). Acredito sim que as relações virtuais podem ser intensas, boas e ruins, tanto quanto as reais.
ResponderExcluirO texto é muito bacana (amo Carpinejar).
Antônio Lídio mandou muito bem no poema.
Post incrível!
Beijos, querida!
Querida amiga! Acredito na amizade virtual. Imaginar e saber que lembraste de mim, Graça... aí longe, é maravilhoso. Amei o que você escreveu e fiquei muito feliz. Obrigada por isto. Estas são as pérolas do mundo virtual: cativar através de palavras. Carinho embrulhado em uma genial técnica. Fazer-se conhecer através de impressões e sentimentos postados é algo maravilhoso. Muitas vezes ouvimos as vozes através da tela e podemos imaginar o brilho de um olhar pelos versos escritos. Beijo
ResponderExcluirMaravilhoso post...tudo que precisava saber sobre esta possibilidade: amor virtual. Genial. Porque o que busco no mundo real é cérebro, não inteligência superior, mas detalhes que me convençam, me conquistem. Conhecer através da linguagem.
ResponderExcluirps. Um imenso abraço minha amiga virtual e verdadeira.
ps 2.o soneto é muito belo, e amor amigo é que encontramos aqui, contigo profª. Graça.
Amiga. Também acredito em amor virtual. Esse texto é lindo e me sensibilizou de forma particular, pois conheci o meu grande amor através da internet e hoje ele deixou de ser virtual. Beijos e ótimo fds.
ResponderExcluirGraça,
ResponderExcluirNão é à toa que seu nome é esse. Sempre fico contente de ler seus comentários lá em meu blogue, rindo muito. Você diz as coisas de uma forma adorável.
Acabei de copiar o texto do Carpinejar, acima, e mandar para uma amiga que gosta muito dele. O texto é realmente ótimo. A gente nem imagina quem é ele - confirmação completa do que ele diz no texto -, uma figuraça.
Eliane F.C.Lima